A Educação Bilíngue no Brasil
- Ana Jacob

- 15 de jun. de 2020
- 3 min de leitura

A globalização é um fenômeno em escala global, social, econômico, político, cultural, etc., que tem embutido em seu caráter encurtar as distâncias entre os países. Devido à grande troca de informações, favorecida pelos veículos de comunicação, grandes potências acabam sendo colocadas em evidência e favorecidas de alguma forma. Um importante impacto da globalização na área da educação foi o crescimento de significativa demanda por uma educação que utilizasse, além da língua
materna , uma língua de prestígio global.
Isto faz com que o tema educação bilíngue logo seja associado a termos e a uma metodologia de ensino que utiliza a língua portuguesa e a língua inglesa em seu currículo, porém quando pensamos em educação bilíngue em uma escala mundial, este assunto ainda é um fenômeno recente; no Brasil, então, está apenas começando.
Nos últimos trinta anos os programas bilíngues começaram a ganhar espaço no Brasil, escolas para surdos e comunidades indígenas são consideradas modelos de educação bilíngue. A respeito da Educação Bilíngue no Brasil, David (2007, p. 69), em sua pesquisa, afirma:
[...] a formação do povo brasileiro é marcada pela diversidade. Além dos povos indígenas, o país recebeu um grande contingente de povos africanos e, a partir da primeira metade do século XX, os imigrantes europeus e seus descendentes passaram a fazer parte da população brasileira.
Apesar da grande miscigenação cultural e linguística presente no Brasil, o modelo de educação monolíngue sempre foi marcante na história da educação brasileira. A primeira vez que a língua indígena foi considera em lei foi no ano de 1998, na Constituição Federal (Art. 210, § 2o), quando começou a exigir-se que a organização escolar considerasse a língua indígena como língua materna. Quase uma década depois a Educação Bilíngue começou a ganhar forma e diversas escolas começaram a surgir pelo país.
No ano de 2002 foi a vez da Língua Brasileira de Sinais (Libras) ser considerada como língua oficial para pessoas surdas, esse ato trouxe contribuições e modificações sociais. Três anos mais tarde, com a intenção de estreitar os laços com os países vizinhos, que fazem fronteira com o Brasil, surge a educação bilíngue de fronteira (BRENTANO, 2011, p.36). Tais modelos de educação são em escala nacional, considerados modalidades de educação bilíngue, e são voltados para comunidades minoritárias que apenas recentemente foram reconhecidas e consolidadas.
Nos anos 90, a busca por aprender a língua inglesa abre espaço para um novo mercado. As escolas logo criaram o que chamavam de núcleo de línguas para atender esse público. A crescente demanda por aprender uma segunda língua despertou em alguns administradores a ideia de oferecer esse ensino baseado na perspectiva bilíngue.
Por ser considerado o inglês uma língua internacional e de prestígio, tais escolas acabam se direcionando apenas a certa parte da população, originando o bilinguismo de elite. Segundo Marcelino (2009, p.01), a ascensão das escolas bilíngues deve-se a uma demanda mercadológica evidenciada pelo interesse de famílias de elite de que seus filhos aprendam outro idioma, confirmando o bilinguismo de elite.
Com as novas concepções de neurociência sobre quanto mais cedo aprender melhor é possível notar um crescente interesse da população brasileira por um ensino de inglês baseado no bilinguismo desde a educação infantil. Aprender um segundo idioma que seja reconhecido internacionalmente com prestígio representa para as famílias assegurar sucesso acadêmico e profissional para seus filhos.
A discussão acerca da educação bilíngue é complexa e devemos concordar com Marcelino (2009, p. 2) quando afirma:
É importante salientar que os estudos sobre educação bilíngue e bilinguismo no Brasil são bastante recentes, no âmbito da pesquisa. Muitas das colocações aqui feitas são de caráter especulativo, apontando tendências ou levantando questões hoje pertinentes na área. A discussão está apenas começando.
Compreendendo o bilinguismo como um fenômeno novo, observemos como os programas bilíngues são pensados e organizados. (spoiler do próximo post).
(Esse texto faz parte do meu artigo de conclusão de curso em Pedagogia, Educação Infantil Bilíngue: um estudo sobre o perfil dos profissionais que atuam na área, de 2014).




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